[...] eu andava escondida no meio de outras coisas. 

Curva de brisa, alga vermelha, brisa de passarinho. 

Eu ainda não era uma vez.

Roger de Mello

Educadora e professora de Língua Portuguesa por parte de pai e mãe. Talvez pareça natural pensar que eu tenha escolhido a profissão por causa deles, mas não. Não tenho a natureza prática daqueles que escolhem o caminho que está diante de si mesmo, precisei experimentar o gosto da docência e só então me decidir por ela.  

Nascida e criada entre pais que tinham na linguagem o seu ganha pão, mas sobretudo, que demonstravam sensibilidade e um afeto muito ativo pelas palavras, não foi difícil para eu entender, assim como diz Larrosa, filósofo da educação,  que a palavra não é uma simples ferramenta ou um instrumento, mas ela é sim o homem. 

A leitura literária sempre preencheu as minhas melhores horas, mas só quando descobri, já como professora, que ela podia ser compartilhada é que provei o seu verdadeiro encantamento: ela tinha o poder de me conectar às pessoas!

Literatura e educação a parceria perfeita quando se tem o olhar de curiosidade para o Outro ou quando se busca o caminho da humanização. Sim! Não nascemos humanos nos tornamos humanos pela educação e a leitura literária é capaz de nos transformar, está tudo lá... toda a nossa humanidade revelada em cada capítulo, em cada verso, em cada imagem nos convidando a refletir sobre nós mesmos. 

Ao observar e vivenciar, por mais de 30 anos, a rotina e a interação das crianças em ambiente escolar, escutar com atenção mães, pais e educadores e ainda, experimentar a maternidade por mim mesma, sou mãe de dois meninos, o João e o Ricardo, me tornei uma mediadora quase natural entre adultos e crianças. E como não poderia deixar de ser, a palavra é o meu instrumento. 

Ora de maneira simbólica, ora de maneira concreta, ela me ensina sobre conexão e me aponta o diálogo que deve ser estabelecido entre adultos e crianças e que diz respeito há algo que se respira e inspira energia. Esse diálogo não se constitui da crença na transformação do outro, mas sim na experiência de transformação de si mesmo. 

Ao focar na nossa própria transformação poderemos compreender os limites das nossas crianças, as suas reais necessidades e  a sua essência.  Isso é para mim, o bem mais precioso de todos!